Por que estamos aqui? (I)
Por que estamos aqui?
Senhores e Senhoras Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco
Há bastante tempo tínhamos o propósito de fazer chegar à oficialidade algumas considerações acerca do que a nossa Corporação vem passando, sobretudo nos últimos meses (anos?).
As colocações contidas neste artigo não pretendem afrontar qualquer autoridade, fazer qualquer tipo de crítica não construtiva ou, principalmente, quebrar os pilares básicos, tradicionais e culturais da Instituição. Assim, temos a intenção de fazer algumas reflexões e trazer à baila alguns desabafos que temos ouvido através das conversas “interna corporis” e fazer, porque não, reflexões de como poderemos mudar este estado de coisas – ou procurar conviver.
Temos a convicção de que somos uma Instituição com raízes históricas, culturais e tradicionais, as quais têm servido de sustentáculo para a sua própria sobrevivência, ante as intempéries da situação político-criminal do Estado e em face de situações difíceis que a própria Policia Militar já passou, ao longo de sua existência, sobretudo nas últimas décadas. Destarte, diante de tudo que seus integrantes já passaram, vivenciaram e superaram, NÃO TEMOS O DIREITO DE NOS ACOVARDARMOS e DE NOS OMITIRMOS, no mínimo, em não FALARMOS, mesmo que as palavras não venham a satisfazer e atender a todas as tentativas de reverter o quadro que ora vislumbramos.
Nossa intenção NÃO É FALAR EM CAUSA PRÓPRIA, não. São inúmeros POLICIAIS MILITARES (Oficiais), que nos procuram, ou fazem ressoar conversas acerca da tentativa – ou mesmo do fato – de desclassificar, desvalorizar e/ou esvaziar determinadas atividades inerentes ao exercício da LIDERANÇA MILITAR, DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E NORMAS DE ESTADO-MAIOR e, pior, do exercício de COMANDO.
Nós, Oficiais, e porque não dizer também os Praças, ingressamos na carreira policial militar em sua grande maioria porque temos (ou tínhamos) uma paixão pela Corporação. Até pouco tempo, o civil quando se referia à Polícia Militar, se referia como um sonho a ser alcançado por seus descendentes, alimentado e desenvolvido ao longo do tempo, quer tenha sido pela imagem do SOLDADO PM, ou da ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR. O certo é que, nós Oficiais, passamos um período de formação na Academia de Polícia Militar, onde deveríamos aprender todos os conhecimentos necessários para a realização da difícil arte de policiar.
Entretanto, neste momento, cabe-nos lembrar que, desde àquele tempo dos bancos escolares da ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DE PAUDALHO, muitos problemas são ou foram ignorados, passamos por cima de diversas frustrações, pois, assimilamos e acumulamos todo um conjunto de conhecimentos que nos levariam ao Comando de Tropa e ao topo da Corporação, de forma natural e progressiva, guardando as devidas habilitações técnicas, éticas e temporais, tudo alicerçado nos vários COMPROMISSOS que fazemos ao longo da carreira, quando juramos: “...mesmo com o risco da própria vida”...
Diante deste quadro, somos integrantes de uma Instituição militar, definidos na Constituição Federal como MILITARES ESTADUAIS e não temos dúvidas disso, reconhecendo os desgastes, cobranças e obrigações naturais de tal condição e não rezingamos por isso, pois, quando ingressamos nesta carreira é justamente isso que nós buscamos - boa parte desta nossa “paixão” é alimentada justamente pelos pilares básicos da hierarquia e da disciplina, e espírito de corpo.
Como militares que somos, temos (ou deveríamos ter) um canal único de comunicação e procuramos seguir isto como doutrina de existência, aprendendo, inclusive, que as ordens superiores devem ser sempre obedecidas, mesmo que não sejam do nosso agrado ou de nossa vontade – desde que estas ordens sejam legais e justas.
Nas Unidades Operacionais quando chegamos após nos formarmos, pois é (já foi) o interesse e destino de todo Aspirante a Oficial recém formado, inspirado pelo exemplo, pela imagem da uma Instituição forte e pela perspectiva de uma carreira solidificada na independência de ideais, na neutralidade de atitudes e na imparcialidade das tendências. Se naquela época, no período de formação, desenvolvíamos um sentimento de amizade e camaradagem, o que presenciamos nos atuais dias e, pasmem, já desde a ACADEMIA, é a busca desenfreada pela estabilidade no trabalho (qualquer um) e por uma oportunidade de obtenção de estudos para alçar outros horizontes no mercado de trabalho. Se ontem éramos recebidos nas Unidades pelos laços de contemporaneidade, respeito e camaradagem, hoje a luta é por um espaço, uma acomodação ante o padrinho que lhe promova, que consiga um bom local para trabalhar ou que lhe proporcione uma boa gratificação, sob o escudo da “falsa meritocracia” e o atingimento de metas. Há estudos, inclusive, onde ficou comprovado que “cada vez que um funcionário mais antigo é substituído pelo melhor funcionário de departamento inferior, acaba tendo um efeito ruim”. Isso acontece, inclusive, porque “as pessoas acabam se afastando do seu verdadeiro talento e assumindo funções para as quais sua competência tende a ser menor”.
Retornando ao nosso caso específico, lembremos acerca do que aconteceu no Congresso Nacional através do conhecido “mensalão”! Será que os parlamentares do Brasil são leais a seus princípios? Têm convicções partidárias irrefutáveis? Assumem discursos eminentemente sustentados em posicionamentos adogmáticos e apolíticos? São independentes e livres em pensamentos e atitudes? Será que jamais se utilizam de colocações falaciosas perante a opinião pública e o eleitorado?
É lamentável saber, ouvir e perceber que policiais militares estão “vendendo” o silêncio a troco de gratificações sob o argumento demagógico e hipócrita do mero atingimento de metas estabelecidas. O que estamos assistindo são profundas modificações na Corporação e, sobretudo, nos Oficiais quando somos induzidos a ser mais egoístas, a pensar menos na coletividade e no espírito de corpo e o individualismo e o favorecimento passando a ser o foco principal. Os interesses pessoais começam a reger nossas ações e as disputas por cargos, são as regras do jogo. Até a promoção de Oficiais Intermediários e Subalternos que deveriam ser algo natural dentro do militarismo, passou a ser usada como instrumento de disputa, através do critério de “merecimento”. Nestes aspectos, começou-se a ruir, também, nas bases, fundamentos do militarismo, a hierarquia.
Por muito tempo, muito mesmo, o exercício de Comando atravessou a história da Polícia Militar de Pernambuco, encheu de ideais seus Oficiais e manteve acesa a chama da paixão por ela e a de servir à sociedade sem qualquer interesse escuso. O exercício do Comando e da Liderança eram estimulados pelas atitudes coerentes com aqueles ideais e exercidos, também, através de decisões inerentes aos Postos e ao próprio Comando. Mas até isto tem custado caro perder e manter, ser subserviente ou não, ser submisso ou ter postura livre - muitos se esquecendo que o fato de COMANDAR é assumir riscos e despojar-se de vaidades e interesses particulares. Estamos nos acostumando a ver a ética invertida, através daqueles que se dão bem e passam a fazer parte de grupos egoístas e que brigam pela preservação do status quo. Estamos nos acostumando a conhecer e a conviver com nossas mazelas e a permanecermos inertes e sofrendo com o descaso corporativo e com a falta de perspectiva de termos lideranças e representantes legítimos perante a tropa, o governo e a sociedade organizada.
Nomeação e exoneração de Comandantes, extinção e/ou esvaziamento de cargos e funções, concessão de gratificações e de licenças, movimentação de policiais militares, controle do armamento e das viaturas policiais, promoção de Oficiais, planejamento, execução e relatório das operações, controle sobre o ensino e a instrução da Corporação, perda da identidade através da ostensividade do uniforme e das viaturas. São alguns dos atributos do exercício de Comando que outrora pertenciam à Corporação, através do seu Comandante.
Precisamos resgatar a nossa história, nossas tradições, nossa dignidade e o amor pela Corporação.
Se fosse simplesmente o “controle externo” necessário e importante às organizações públicas e ao exercício legal das atribuições...mas não é. Pessoas de plantão estão adentrando na Instituição e se apoderando cada vez mais da atitude de liderar e comandar, outrora desenvolvidas de forma natural e conquistadas através da confiança e respeito mútuo sendo substituídos pelo receio da perda de cargos, pela perda de comandos e gratificações e pela necessidade de fazer propaganda política.
Não sejamos hipócritas em dizer que a questão principal não é o salário, pois nós sabemos que é. Todo o sacrifício que tem sido feito para atingir “metas”, expondo Oficiais e Praças aos perigos inerentes ao trabalho e às horas sem o convívio familiar e de lazer, seria perfeitamente suportado por todos se houvesse um reconhecimento geral sobre tal mister.
Os ensinamentos do Gen Sun Tzu em “Arte da Guerra”, já previam há mais de 5.000 anos : “VALORIZE OS SEUS SUBORDINADOS QUE ELES LHE DARÃO A VIDA”.
Esse enfraquecimento do poderio policial militar não é fruto de atitude isolada, é o resultado de um movimento sistemático destinado a que a Corporação e, por conseqüência, seus integrantes (sobretudo os Comandantes) dependam cada vez mais de verbas outras, para seus projetos corporativos e seus interesses pessoais – legítimos ou não.
Os esforços para reduzir os efeitos da violência urbana têm sido enormes e têm sacrificado milhares de policiais militares sem que se vislumbre um retorno correspondente a esse sacrifício.
Esse trabalho, nossa missão, muitas vezes recebeu (ou recebe) as insatisfações da população que, não podendo vingar-se dos verdadeiros culpados pela falta de moradia, pela saúde pública deficiente, pela falta de iluminação pública, pela falta de saneamento básico, pela educação pública de baixa qualidade, pela má distribuição de renda e outras variáveis, descarrega sua fúria naquele que está sempre pronto a servir à sociedade – o policial militar é mais visível, é a exteriorização do Estado.
É necessário confiar nos milhares de homens e mulheres que envergam o uniforme da Polícia Militar dando sua contribuição para a segurança pública com honra e honestidade, mesmo consciente de que muitas variáveis extrapolam os limites da competência da Corporação. Diante disso, qual a motivação tem o policial militar para trabalhar num cenário deste ? Qual a motivação tem o policial militar para arriscar a vida todos os dias para combater marginais ?
Não é preciso ir muito longe no tempo e no espaço para percebermos doutrinas e filosofias populistas serem empregadas e implantadas dentro da Corporação, trazendo, sobretudo, todos os seus males e conseqüências nefastas, como se os integrantes (nós) tivessem pouca memória e elevada ignorância.
De igual modo, a fidelidade tem sido negociada, enquanto o Governo divulga que cumpre metas e objetivos. Os que se opõem a esse pensamento são desprezados e desqualificados, de modo que o silêncio e a mentira sejam o reflexo da verossimilhança e a verdade seja ofuscada pelo discurso da discórdia e incompreensão.
Meus prezados Oficiais, quando, ao longo da história nós ouvimos falar ou presenciamos tamanha perda de espaço, autoridade e força da nossa POLÍCIA MILITAR?
A Corporação está tomando um caminho sem volta.
Será que ORGULHO DE SER PM é coisa de saudosista?!
Não podemos mais fingir que está tudo bem. Não podemos mais continuar trabalhando como se não confiássemos nas pessoas que estão ao nosso redor. Além disso, estaríamos mentindo, também, para nossos familiares, amigos e para a sociedade como um todo.
O que fazer ?
Como conviver ?
Como eliminar os fatores adversos e conquistar nossos intentos ?
Se Você concorda com esse estado de coisas, tudo bem você merece. Caso não concorde temos muito que conversar....
FORÇA E HONRA
ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR
Senhores e Senhoras Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco
Há bastante tempo tínhamos o propósito de fazer chegar à oficialidade algumas considerações acerca do que a nossa Corporação vem passando, sobretudo nos últimos meses (anos?).
As colocações contidas neste artigo não pretendem afrontar qualquer autoridade, fazer qualquer tipo de crítica não construtiva ou, principalmente, quebrar os pilares básicos, tradicionais e culturais da Instituição. Assim, temos a intenção de fazer algumas reflexões e trazer à baila alguns desabafos que temos ouvido através das conversas “interna corporis” e fazer, porque não, reflexões de como poderemos mudar este estado de coisas – ou procurar conviver.
Temos a convicção de que somos uma Instituição com raízes históricas, culturais e tradicionais, as quais têm servido de sustentáculo para a sua própria sobrevivência, ante as intempéries da situação político-criminal do Estado e em face de situações difíceis que a própria Policia Militar já passou, ao longo de sua existência, sobretudo nas últimas décadas. Destarte, diante de tudo que seus integrantes já passaram, vivenciaram e superaram, NÃO TEMOS O DIREITO DE NOS ACOVARDARMOS e DE NOS OMITIRMOS, no mínimo, em não FALARMOS, mesmo que as palavras não venham a satisfazer e atender a todas as tentativas de reverter o quadro que ora vislumbramos.
Nossa intenção NÃO É FALAR EM CAUSA PRÓPRIA, não. São inúmeros POLICIAIS MILITARES (Oficiais), que nos procuram, ou fazem ressoar conversas acerca da tentativa – ou mesmo do fato – de desclassificar, desvalorizar e/ou esvaziar determinadas atividades inerentes ao exercício da LIDERANÇA MILITAR, DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E NORMAS DE ESTADO-MAIOR e, pior, do exercício de COMANDO.
Nós, Oficiais, e porque não dizer também os Praças, ingressamos na carreira policial militar em sua grande maioria porque temos (ou tínhamos) uma paixão pela Corporação. Até pouco tempo, o civil quando se referia à Polícia Militar, se referia como um sonho a ser alcançado por seus descendentes, alimentado e desenvolvido ao longo do tempo, quer tenha sido pela imagem do SOLDADO PM, ou da ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR. O certo é que, nós Oficiais, passamos um período de formação na Academia de Polícia Militar, onde deveríamos aprender todos os conhecimentos necessários para a realização da difícil arte de policiar.
Entretanto, neste momento, cabe-nos lembrar que, desde àquele tempo dos bancos escolares da ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DE PAUDALHO, muitos problemas são ou foram ignorados, passamos por cima de diversas frustrações, pois, assimilamos e acumulamos todo um conjunto de conhecimentos que nos levariam ao Comando de Tropa e ao topo da Corporação, de forma natural e progressiva, guardando as devidas habilitações técnicas, éticas e temporais, tudo alicerçado nos vários COMPROMISSOS que fazemos ao longo da carreira, quando juramos: “...mesmo com o risco da própria vida”...
Diante deste quadro, somos integrantes de uma Instituição militar, definidos na Constituição Federal como MILITARES ESTADUAIS e não temos dúvidas disso, reconhecendo os desgastes, cobranças e obrigações naturais de tal condição e não rezingamos por isso, pois, quando ingressamos nesta carreira é justamente isso que nós buscamos - boa parte desta nossa “paixão” é alimentada justamente pelos pilares básicos da hierarquia e da disciplina, e espírito de corpo.
Como militares que somos, temos (ou deveríamos ter) um canal único de comunicação e procuramos seguir isto como doutrina de existência, aprendendo, inclusive, que as ordens superiores devem ser sempre obedecidas, mesmo que não sejam do nosso agrado ou de nossa vontade – desde que estas ordens sejam legais e justas.
Nas Unidades Operacionais quando chegamos após nos formarmos, pois é (já foi) o interesse e destino de todo Aspirante a Oficial recém formado, inspirado pelo exemplo, pela imagem da uma Instituição forte e pela perspectiva de uma carreira solidificada na independência de ideais, na neutralidade de atitudes e na imparcialidade das tendências. Se naquela época, no período de formação, desenvolvíamos um sentimento de amizade e camaradagem, o que presenciamos nos atuais dias e, pasmem, já desde a ACADEMIA, é a busca desenfreada pela estabilidade no trabalho (qualquer um) e por uma oportunidade de obtenção de estudos para alçar outros horizontes no mercado de trabalho. Se ontem éramos recebidos nas Unidades pelos laços de contemporaneidade, respeito e camaradagem, hoje a luta é por um espaço, uma acomodação ante o padrinho que lhe promova, que consiga um bom local para trabalhar ou que lhe proporcione uma boa gratificação, sob o escudo da “falsa meritocracia” e o atingimento de metas. Há estudos, inclusive, onde ficou comprovado que “cada vez que um funcionário mais antigo é substituído pelo melhor funcionário de departamento inferior, acaba tendo um efeito ruim”. Isso acontece, inclusive, porque “as pessoas acabam se afastando do seu verdadeiro talento e assumindo funções para as quais sua competência tende a ser menor”.
Retornando ao nosso caso específico, lembremos acerca do que aconteceu no Congresso Nacional através do conhecido “mensalão”! Será que os parlamentares do Brasil são leais a seus princípios? Têm convicções partidárias irrefutáveis? Assumem discursos eminentemente sustentados em posicionamentos adogmáticos e apolíticos? São independentes e livres em pensamentos e atitudes? Será que jamais se utilizam de colocações falaciosas perante a opinião pública e o eleitorado?
É lamentável saber, ouvir e perceber que policiais militares estão “vendendo” o silêncio a troco de gratificações sob o argumento demagógico e hipócrita do mero atingimento de metas estabelecidas. O que estamos assistindo são profundas modificações na Corporação e, sobretudo, nos Oficiais quando somos induzidos a ser mais egoístas, a pensar menos na coletividade e no espírito de corpo e o individualismo e o favorecimento passando a ser o foco principal. Os interesses pessoais começam a reger nossas ações e as disputas por cargos, são as regras do jogo. Até a promoção de Oficiais Intermediários e Subalternos que deveriam ser algo natural dentro do militarismo, passou a ser usada como instrumento de disputa, através do critério de “merecimento”. Nestes aspectos, começou-se a ruir, também, nas bases, fundamentos do militarismo, a hierarquia.
Por muito tempo, muito mesmo, o exercício de Comando atravessou a história da Polícia Militar de Pernambuco, encheu de ideais seus Oficiais e manteve acesa a chama da paixão por ela e a de servir à sociedade sem qualquer interesse escuso. O exercício do Comando e da Liderança eram estimulados pelas atitudes coerentes com aqueles ideais e exercidos, também, através de decisões inerentes aos Postos e ao próprio Comando. Mas até isto tem custado caro perder e manter, ser subserviente ou não, ser submisso ou ter postura livre - muitos se esquecendo que o fato de COMANDAR é assumir riscos e despojar-se de vaidades e interesses particulares. Estamos nos acostumando a ver a ética invertida, através daqueles que se dão bem e passam a fazer parte de grupos egoístas e que brigam pela preservação do status quo. Estamos nos acostumando a conhecer e a conviver com nossas mazelas e a permanecermos inertes e sofrendo com o descaso corporativo e com a falta de perspectiva de termos lideranças e representantes legítimos perante a tropa, o governo e a sociedade organizada.
Nomeação e exoneração de Comandantes, extinção e/ou esvaziamento de cargos e funções, concessão de gratificações e de licenças, movimentação de policiais militares, controle do armamento e das viaturas policiais, promoção de Oficiais, planejamento, execução e relatório das operações, controle sobre o ensino e a instrução da Corporação, perda da identidade através da ostensividade do uniforme e das viaturas. São alguns dos atributos do exercício de Comando que outrora pertenciam à Corporação, através do seu Comandante.
Precisamos resgatar a nossa história, nossas tradições, nossa dignidade e o amor pela Corporação.
Se fosse simplesmente o “controle externo” necessário e importante às organizações públicas e ao exercício legal das atribuições...mas não é. Pessoas de plantão estão adentrando na Instituição e se apoderando cada vez mais da atitude de liderar e comandar, outrora desenvolvidas de forma natural e conquistadas através da confiança e respeito mútuo sendo substituídos pelo receio da perda de cargos, pela perda de comandos e gratificações e pela necessidade de fazer propaganda política.
Não sejamos hipócritas em dizer que a questão principal não é o salário, pois nós sabemos que é. Todo o sacrifício que tem sido feito para atingir “metas”, expondo Oficiais e Praças aos perigos inerentes ao trabalho e às horas sem o convívio familiar e de lazer, seria perfeitamente suportado por todos se houvesse um reconhecimento geral sobre tal mister.
Os ensinamentos do Gen Sun Tzu em “Arte da Guerra”, já previam há mais de 5.000 anos : “VALORIZE OS SEUS SUBORDINADOS QUE ELES LHE DARÃO A VIDA”.
Esse enfraquecimento do poderio policial militar não é fruto de atitude isolada, é o resultado de um movimento sistemático destinado a que a Corporação e, por conseqüência, seus integrantes (sobretudo os Comandantes) dependam cada vez mais de verbas outras, para seus projetos corporativos e seus interesses pessoais – legítimos ou não.
Os esforços para reduzir os efeitos da violência urbana têm sido enormes e têm sacrificado milhares de policiais militares sem que se vislumbre um retorno correspondente a esse sacrifício.
Esse trabalho, nossa missão, muitas vezes recebeu (ou recebe) as insatisfações da população que, não podendo vingar-se dos verdadeiros culpados pela falta de moradia, pela saúde pública deficiente, pela falta de iluminação pública, pela falta de saneamento básico, pela educação pública de baixa qualidade, pela má distribuição de renda e outras variáveis, descarrega sua fúria naquele que está sempre pronto a servir à sociedade – o policial militar é mais visível, é a exteriorização do Estado.
É necessário confiar nos milhares de homens e mulheres que envergam o uniforme da Polícia Militar dando sua contribuição para a segurança pública com honra e honestidade, mesmo consciente de que muitas variáveis extrapolam os limites da competência da Corporação. Diante disso, qual a motivação tem o policial militar para trabalhar num cenário deste ? Qual a motivação tem o policial militar para arriscar a vida todos os dias para combater marginais ?
Não é preciso ir muito longe no tempo e no espaço para percebermos doutrinas e filosofias populistas serem empregadas e implantadas dentro da Corporação, trazendo, sobretudo, todos os seus males e conseqüências nefastas, como se os integrantes (nós) tivessem pouca memória e elevada ignorância.
De igual modo, a fidelidade tem sido negociada, enquanto o Governo divulga que cumpre metas e objetivos. Os que se opõem a esse pensamento são desprezados e desqualificados, de modo que o silêncio e a mentira sejam o reflexo da verossimilhança e a verdade seja ofuscada pelo discurso da discórdia e incompreensão.
Meus prezados Oficiais, quando, ao longo da história nós ouvimos falar ou presenciamos tamanha perda de espaço, autoridade e força da nossa POLÍCIA MILITAR?
A Corporação está tomando um caminho sem volta.
Será que ORGULHO DE SER PM é coisa de saudosista?!
Não podemos mais fingir que está tudo bem. Não podemos mais continuar trabalhando como se não confiássemos nas pessoas que estão ao nosso redor. Além disso, estaríamos mentindo, também, para nossos familiares, amigos e para a sociedade como um todo.
O que fazer ?
Como conviver ?
Como eliminar os fatores adversos e conquistar nossos intentos ?
Se Você concorda com esse estado de coisas, tudo bem você merece. Caso não concorde temos muito que conversar....
FORÇA E HONRA
ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR
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